Na campanha eleitoral, os democratas poderiam ter se unido contra Bolsonaro, apoiando Haddad, pois já se sabia o que ele era, mas pesou a vontade de derrotar o PT. Ao longo destes 13 meses de governo, com todos os sinais de avanço do autoritarismo, falou-se muito em frente pela democracia mas foram apenas palavras ao vento. Agora aí estamos diante dos preparativos de um golpe, com a convocação do ato contra o Congresso que na verdade prega “todo poder a Bolsonaro”. E ele cruzou o limite, difundindo pessoalmente, ainda que não postando, a convocação. Chegou a hora de cada democrata assumir sua responsabilidade, especialmente os da elite política.
Enquanto os presidentes da Câmara e do Senado fazem silêncio, o primeiro a se pronunciar foi o decano do STF, Celso de Mello, lembrando que Bolsonaro incorre em crime de responsabilidade ao difundir ato contra o Congresso, afrontando o artigo 85 da Constituição Federal. A elite política herdeira da democracia tem que se posicionar e agir antes que seja tarde. Bolsonaro vai às redes sociais e diz que tudo não passa de “tentativa rasteira” de tumultuar a República”. Mas quem faz tumulto é ele mesmo, o tempo todo. Quem falou em chamar o povo à rua foi o general Heleno, que mandou um “foda-se” para o Congresso que chamou de chantagista.
Olhando agora para os últimos dias, vemos que estava clara a intenção de criar um clima que justificasse o golpe: ataques inaceitáveis a uma jornalista, ameaça à segurança nos estados pelas correntes milicializadas das polícias, o veto às emendas impositivas e depois a reação de Heleno. E o próprio Guedes sabotando sua agenda neoliberal com declarações inaceitáveis. São desculpas cavadas para dizer: Com este Congresso não se governo, não se aprova reformas, não se faz ajuste fiscal. Fora com o Congresso para que Bolsonaro possa “salvar o Brasil”.
O Parlamento é uma instituição cheia de defeitos. O nosso Congresso é mal avaliado pela população. Mas como em todo o mundo, a importância dos parlamentos só é percebida depois que são fechados. Ou o Congresso enfrenta agora a ameaça de ditadura de Bolsonaro, ou quando acordar será tarde.
As condições para a frente democrática estão dadas. Temos aí três ex-presidentes – Lula, FHC e Dilma – condenando o ensaio golpista. Um dos governadores, Doria, já se manifestou, e eles estão mais unidos do que nunca. O decano do STF já externou sua respeitada opinião. É preciso avançar com isso. Maia ainda está na França mas, juntamente com Alcolumbre, tem que assumir o comando da reação, em sintonia com a frente democrática que agora pode surgir por força da situação.
Ditadura nunca mais!
TEREZA CRUVINEL ” BLOG 247″ ( BRASIL)