A capa da IstoÉ, em edição antecipada, nos remete à edição do Correio da Manhã às vésperas do golpe de 1964. Um “Basta” em letras garrafais dava o empurrão que faltava para depor o presidente João Goulart. A movimentação das tropas de baixa patente contra os parcos soldos e condições de tratamento pelos superiores, na Marinha, outra coincidência que nos remete àquela semana fatídica que nos jogou em 21 anos de trevas.
As coincidências, porém, param neste ponto. Daí por diante, é como se alguém tivesse aberto uma gaveta e virado de ponta cabeça, deixando esparramar o conteúdo de forma desordenada. As épocas se misturam numa bagunça alucinada, que apenas aponta numa direção: PERIGO.
Quando tentamos juntar as pontas e montar um cenário, como se costuma fazer para entender o momento político, é como se a máquina do tempo tivesse pirado. Buscamos na estante livros de teorias, e eles já não permitem paralelos com a realidade. Buscamos as notícias, e os fatos batem uns de encontro a outros, de forma estonteante. E quando separamos cada acontecimento, tentando colocá-lo em um contexto, eles não fazem sentido. Não se encaixam em nenhum conjunto.
Uma frase dita em Washington, durante recepção oferecida pelo embaixador Sérgio Amaral, pelo recém-empossado presidente Jair Bolsonaro, ecoa ainda hoje e, mesmo que nos pareça fora de hora, é dela que devemos lembrar e tirarmos uma pista. “Antes de Construir, é preciso desconstruir muita coisa no Brasil”. Ele só não explicou a amplitude de sua destruição.
Não deixou claro, por exemplo, que destruiria sentimentos, comportamentos, famílias, a economia, os meios de produção, os direitos dos trabalhadores, o funcionamento dos órgãos públicos, a floresta, as relações entre os poderes, e a reputação de jornalistas que buscam transmitir os governos e o seu cotidiano, para a sociedade.
Bolsonaro não disse que incitaria a população a ficar contra as regras que tornam um país civilizado. E, com certeza, não dirá que respaldado por aqueles que o expulsaram de suas fileiras, os militares, ele agora dita o que vale e o que não vale. Bolsonaro esqueceu de avisar que o seu governo é nau sem rumo. A Carta náutica foi lançada ao mar. A tormenta que se avizinha pode obrigá-lo a recolher as velas, mas, na dúvida, ele chamará o general Heleno. O general saberá ligar o “foda-se” contra todos nós. Agarrem-se aos seus coletes.
DENISE ASSIS ” BLOG 247″ ( BRASIL)