O frenético circuito de parques e montanhas russas de Orlando, nos Estados Unidos, é uma espécie de campo de iniciação liberal das sociedades colonizadas, ao sul do Equador.
No Brasil, ir à Disney é uma obrigação cultural entre os ricos e, na classe média, um ritual de passagem para crianças e adolescentes ao mundo do capitalismo ocidental usado, dentro de um acordo social miseravelmente precário, como credencial de Primeiro Mundo.
Por outro lado, não ir à Disney tornou-se fonte permanente de frustração entre as famílias de remediados que, em tempos passados (leia-se, governos do PT), esbaldavam-se no fulgurante universo multicolorido de Mickey, Donald e Pateta.
Trata-se, essencialmente, de uma frustração de classe, o que, no delírio permanente da classe média brasileira, significa uma interdição ao acesso de um direito sagrado que, em passado recente (leia-se, governos do PT), chegou a ser maculado pela presença de estranhos – os pobres.
É nesse contexto que surge a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre as empregadas domésticas.
Quase sempre negras, pobres e com baixa (ou nenhuma) escolaridade, as empregadas domésticas simbolizam o estrato social que a classe média branca e racista não quer nem no elevador social, quiçá nos ensolarados parques temáticos da Flórida.
Nos governos petistas, elas foram retiradas da senzala, 130 anos depois da abolição, e colocadas no mundo dos direitos trabalhistas, para desgosto da classe média mantenedora de quartinhos de empregada.
Após o golpe de 2016, iniciou-se um movimento para colocá-las, de novo, no pelourinho social.
A fala de Guedes nada mais é do que a verbalização desse sentimento.
LEANDRO FORTES ” BLOG 247″ ( BRASIL)