No Global Times, jornal em inglês ligado ao governo da China, uma reportagem fala dos vários hospitais de grande porte que estão sendo construídos em várias cidades do país, além dos “leitos expressos” na cidade de Wuhan que ficaram conhecidos pelas imagens divulgadas pelo mundo.
Pequim (22 milhões de habitantes), Fozhou (7,5) e Harbin (10,5) são algumas das cidades onde a reportagem indica estarem sendo construídos hospitais de grande porte. No total, segundo a CNN, os gastos chineses no combate ao coronavírus já chegam a US$ 12, 6 bilhões.
Não se investe tanto para algo que vá durar uma ou duas semanas.
As previsões dos próprios chineses falam em uma queda de 2% no PIB no primeiro semestre, se não houver uma piora nas condições atuais.
É evidente que isso retrata uma desaceleração econômica e, portanto, uma menor demanda de matérias-primas e serviços na maior economia do mundo. E, claro, no maior cliente de compras externas do Brasil.
Também na exportação – além do óbvio declínio da quantidade – vão se fazer sentir as elevações dos custos logísticos. Fronteiras fechadas, portos sob intensa vigilância sanitária e redução abrupta nos transportes aéreos – segundo o The Guardian, já e cancelaram 10 mil voos de e para o território chinês – vão tornar mais caros os serviços de transporte.
Um terceiro fator se soma a estes: o acordo comercial entre China e Estados Unidos – apontado pelo “mercado” como a “salvação da lavoura” para a continuidade do aquecimento da economia mundial – prevê valores obrigatórios nas compras chinesas aos norte-americanos.
Deveria ser um tanto óbvio que haverá uma queda de consumo expressiva entre os 1,4 bilhões de habitantes da China. Todas as demandas serão reduzidas.
No caso dos produtos agrícolas, como carne, soja e outros grãos, são US$ 32 bilhões, obrigatoriamente. Nosso mercado, portanto, é o excedente deste valor: se o total de compras cai, é sobre este excedente que vai se aplicar a redução.
Este é o cenário econômico que está diante de nós, mesmo sem qualquer previsão catastrofista de um agravamento do quadro epidemiológico chinês (e, por desventura, mundial).
Deveríamos estar preocupados e prontos para isso, mas parece que nossos planejadores econômicos seguem na imprudência de que “isso logo passa”.
Passa, como tudo na vida. Mas, enquanto não passa, pode gerar mais ou menos danos.
Mercadorias circulam com pessoas, desde a tomada de decisões até o embarque num navio.
Não existe um sistema mundial que seja como aquela “bomba de nêutrons” dos Estados Unidos, onde só as pessoas morrem, mas os bens “sobrevivem”.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)