
Ignacio Fariza, de Madri, traça, no El País, um retrato cru dos planos privatistas de Paulo Guedes, que se resumem em duas palavras: vender tudo.
“O Governo brasileiro quer vender tudo. Não é uma licença jornalística ou uma tentativa de capturar o leitor: são palavras literais do czar econômico de Jair Bolsonaro, o ultraliberal Paulo Guedes, e do próprio secretário-geral de privatizações, Salim Mattar, uma figura cuja mera existência é uma declaração de intenções. Para além da retórica, já colocaram mãos à obra, demonstrando que vão com tudo em um plano de privatização iniciado na época de Michel Temer, mas que ganhou força com o nacional-populista no poder. O objetivo autofixado de arrecadar 20 bilhões de dólares em 2019 através da venda, parcial ou total, de participações em empresas ou ativos de titularidade do Estado foi superado: até o fim de setembro as autoridades brasileiras tinham vendido participações em empresas arrecadando mais de 19 bilhões de dólares, oferecido infraestruturas por 6 bilhões e leiloado direitos de exploração de matérias-primas —principalmente petróleo — por 12 bilhões. Embora com mais obstáculos do que a nova administração gostaria, no último trimestre do ano —período para o qual ainda não há dados disponíveis —, o número continuou engordando.”
O texto diz que, além do deficit nas contas públicas, o motivo da ânsia vendedora é “puramente ideológico”: e fidelidade de Guedes à doutrina da Escola de Chicago, e de que o setor privado é, por definição, melhor gestor do que o Estado e que isso “diminuirá a corrupção”. Claro, ninguém vai ganhar dinheiro com seu plano de movimentar “mais de 320 bilhões de dólares em privatizações e leilões de infraestrutura”.
E não é só isso: com a economia combalida, há duas previsões autorrealizáveis: a de que os compradores serão, essencialmente, estrangeiros e de que os preços serão abaixo do que poderiam atingir em um governo que, até, considerasse privatizar como um negócio e não como uma obrigação que, se não levada a cabo, significa fracasso. Na reportagem, uma economista da Universidade de Cornell, Lourdes Casanova, diz com propriedade: “sempre se deve vender a partir de uma posição forte [porque] quando você é obrigado [a vender] e o comprador sabe disso, ele te pressiona”.
E é assim que vamos ao famoso “no limite da responsabilidade” dos tempos de Fernando Henrique.”
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)