Vamos entender o sistema de lavagem de dinheiro de Flávio Bolsonaro, a partir das informações divulgadas pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro
Vamos entender o sistema de lavagem de dinheiro de Flávio Bolsonaro, a partir das informações divulgadas pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, tendo como fio condutor uma reportagem de maio da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo.
Peça 1 –os imóveis de Flávio Bolsonaro
No dia 15 de abril, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal de 95 empresas, de alguma forma relacionadas com as instigações sobre o senador Flávio Bolsonaro.
A suspeita maior era de uso dos imóveis para lavagem de dinheiro. Pelos cálculos dos promotores, entre 2010 e 2017, Flávio Bolsonaro teria lucrado R$ 3,089 milhões em operações “suspeitas de subfaturamento nas compras e superfaturamento nas vendas”.
Teria investido R$ 9,425 milhões na compra de 19 imóveis. O caso que mais chamou a atenção foi o da venda, em outubro de 2010, de 10 imóveis para a MCA Exportação e Participações, que tem como sócia uma empresa de nome Listel S.A. Flávio adquiriu 10 imóveis, por R$ 2,6 milhões, e pouco depois revendeu para a MCA por R$ 3,2 milhões.
Peça 2 – métodos de lavagem de dinheiro
Uma das modalidades de lavagem de dinheiro muito usada no Brasil se vale de doleiros, na modalidade dólar cabo.
O cliente dá o dinheiro para o doleiro. Ele transforma em dólar e um doleiro associado no exterior disponibiliza um dinheiro lá fora. Arrumam um laranja que integraliza o valor como capital social na offshore (empresa aberta no exterior) que é apenas papel. A off shore compra imóveis no país de origem de onde saiu o dinheiro (no caso o Brasil) ou compra quotas de capital de uma empresa que existe de fato. Dessa forma, o dinheiro que era ilícito, volta limpo na forma de um bem material.
Como os Bolsonaro lidam com dinheiro vivo, provenientes das “rachadinhas”, é provável que usem esse mecanismo.Leia também: Paulo Klein deixa defesa de Fabrício Queiroz
Muitas vezes, o doleiro atua em paraísos fiscais através de duas empresas, modalidade que é chamada pelos especialistas em investigação de “dupla camada”, destinado a dificultar o rastreamento do dinheiro. Na maior parte das vezes, a segunda empresa, a segunda camada, se conecta a algum banco.
Peça 3 – a Listel S.A. e a MCA Exportação e Participações
No caso Flávio Bolsonaro, a empresa central da operação é a Listel S.A. É uma empresa criada em 20 de março de 1979 pelo tradicional Escritório Icaza, González-Ruiz & Alemán, o maior especialista em abertura de empresas em paraísos fiscais, o preferido dos políticos e potentados, que já abriu mais de 1.500 empresas pelo mundo, inclusive de clientes brasileiros revelados pelo Panama Papers.
A ficha da Listel S.A. mostra vários diretores. Os mais ostensivos são Carlo Cattaneo Adorno[i] e Marcelo Cattaneo Adorno[ii] e Delio Thompson de Carvalho Fiho[iii], que assumiram em 2014 depois da renúncia de Carlos Bryden, Itzkra de Trute e da Jedburgh. No Brasil, aparecem como controladores Marcello Cattaneo Adorno, Delio Thompson de Carvalho Filho. Além da MCA, Marcello é proprietário da Orion Consultoria.
Peça 4 – a Impala Limited
A segunda camada da Listel S.A. é a offshore Impala Limited. Aí o jogo vai ficando mais denso. A Impala esteve diretamente envolvida nos escândalos do senador espanhol Luís Bárcenas, em inquérito conduzido pelo juiz Baltazár Garzon. O notório escritório de advocacia panamenho Icaza, González-Ruiz & Alemán criou duas empresas e uma fundação fantasma para lavar o dinheiro de Bárcenas. Portanto, Flávio não tratava com pequenos contraventoresLeia também: Advogado de Flávio Bolsonaro defende miliciano em entrevista
A Impala atuava especialmente com o Arner Bank, diretamente envolvido nos escândalos de Berlusconi, na Itália, e com depósitos da Odebrecht para Verônica, a filha de José Serra.
A Impala tinha dois sócios notórios.
Um deles, Carlos Briden[iv]. O outro, Itzkra de Trute, proprietário da Holding Inc[v].
Pode ser que na prática os imóveis continuem de fato com o Flávio, ou com algum comparsa das milícias que eles controlam.
[i] https://opencorporates.com/events/1135475183
Quantidade de empresas pertencentes a Delio Thompson De Carvalho Filho : 6
Delio Thompson De Carvalho Filho é sócio de 6 empresas no estado de Rio De Janeiro.
Capital social das empresas de Delio Thompson De Carvalho Filho: R$ 23.754.987,00
Primeira sociedade de Delio Thompson De Carvalho Filho foi firmada em: 13/03/1998
Sócios de Delio Thompson De Carvalho Filho : Delio Thompson de Carvalho Filho, Marcello Cattaneo Adorno, Luiz Fernando de Miranda Braga Alvarenga, Sandra Cattaneo Adorno, Edgar Andrew Lynch, Sergio Luiz Borges de Azevedo, Listel Sa, Mca Exportacao E Participacoes Ltda, Teadit Holding Inc, Renato Ribeiro Pizza, Marcelo Collodetti Mano
[ii]
[iii] https://www.consultasocio.com/q/sa/delio-thompson-de-carvalho-filho
[iv] https://cyprusregistry.com/he/companies/HE/317518
[v] https://www.corporationwiki.com/Florida/Coral-Gables/2806-holding-inc/66112212.aspx
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)