Os líderes da oposição na Câmara e no Senado, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) e senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediram ontem ao Ministério Público do Rio de Janeiro a realização de uma nova e correta perícia técnica no computador e no sistema de áudio da portaria do condomínio em que mora Jair Bolsonaro, “para afastar qualquer suspeita de manipulação de provas sobre o assassinato de Mariele Franco”.
Na verdade, a suspeita de adulteração, que já pairava sobre Carlos Bolsonaro, ganhou força nesta segunda-feira com a informação publicada pelo colunista de O Globo Lauro Jardim, de que os investigadores do caso constataram não ser do porteiro que estava de plantão no dia do crime a voz que aparece na gravação divulgada por Carlos, como prova de que não houve ligação da portaria para a casa 58, a de seu pai, mas apenas para a 65, do comparsa Ronnie Lessa, que autorizou a entrada do visitante Elcio Queiroz: “pode liberar aí”. Eles são os principais suspeitos de terem executado Mariele e estão presos.
O porteiro do dia crime, como sabido, anotou na planilha manual a casa 58 como destino do visitante e declarou em dois depoimentos que ligou para a casa 58, onde foi atendido por “Seu Jair”, que autorizou o acesso. Bolsonaro, como sabido, estava em Brasília, Elcio, entretanto, dirigiu-se à casa de Ronnie, a 65.
Na quarta-feira, 30, dia seguinte à matéria do Jornal Nacional revelando o depoimento do porteiro, três procuradoras do Ministério Público do Rio de Janeiro disseram que ele mentiu, pois o que disse não batia com os registros de áudio da portaria. Em seguida Carlos Bolsonaro fez um desmentido triunfante, apresentando pelas redes sociais uma planilha eletrônica e um áudio. Nele, o porteiro liga para a casa 65, onde o próprio Ronnie Lessa autoriza a entrada de Elcio. Mas a voz, segundo a nota de Jardim, era de outro porteiro.
As procuradoras afirmam que, comparando o áudio com as gravações de depoimentos prestados por Ronnie, puderam concluir que foi ele mesmo que atendeu à chamada da portaria. Interessante que não se preocuparam em fazer o mesmo com a voz do porteiro, e poderiam ter feito, pois dispõem de gravações dos dois depoimentos daquele (ainda sem nome) que estava de plantão no dia do crime.
Na petição ao Procurador—Geral do Estado, José Eduardo Clotola Gussem, os dois líderes relatam tudo isso e recordam as falhas da perícia a jato que o próprio Ministério Público – e não o Instituto de Criminalística – diz ter feito em pouco mais de duas horas: a perícia foi em cima de áudios e dados registrados num CD, e não no computador e no sistema de registro de vozes da portaria. Alegam que Carlos Bolsonaro não poderia ter tido acesso aos registros eletrônicos, que se tornaram peças de investigação, afora guardarem informações pertinentes ao sigilo dos moradores. E acrescentam o que Bolsonaro disse no sábado: “Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentassem adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano·.”
Carlos Bolsonaro, o grilo falante da família nas redes sociais, fez um longo silêncio ontem, depois da revelação de que, tudo indica, vozes foram trocadas. E como ele assumiu ter tido acesso ao sistema de gravações, secundado pelo pai no sábado, não pode agora reclamar de ter se tornado suspeito de manipulação.
É possível? Claro que é, diz meu consultar de informática, dando um exemplo. Suponha que você tenha uma play list, com nome e gravações de músicas. Selecionando e colando, você pode tirar a do quinto lugar e colocar em primeiro, como se faz com arquivo de texto. Simples.
TEREZA CRUVINEL ” BLOG 247″ ( BRASIL)