Há uma imensa dificuldade de alguns setores de entender melhor a mecânica dos movimentos políticos que envolvem muitos setores e atores políticos. Pensa-se em uma sala fechada onde, na penumbra, senhores misteriosos planejam as jogadas.
Esse tipo de imagem é utilizado pelos crédulos em conspiração, e pelos céticos, para desacreditar a hipótese de conspiração.
É o caso atual dos movimentos da mídia em relação a Bolsonaro. Morde, avança, acua, mas quando está prestes a dar o soco final, recua. Por mídia entenda-se a primeira divisão, sistema Globo, Folha e Estadão.
Há uma lógica por trás disso.
Antes, uma pequena explicação sobre como se dão essas articulações sincronizadas entre veículos que, à falta de melhor denominação, pôde-se chamar de movimentos conspiratórios. Obviamente, não há as salas secretas. O mundo moderno já consagrou modos de comunicação bem mais eficientes, como telefones, Skype, web conference. E as práticas ancestrais dos encontros sociais nos quais, ao longo de décadas, se estreitam as relações e as conversas sobre economia e política e Poder.
O chamado poder do mercado tem muitas linhas de transmissão.
A mídia, através da qual consolida a ideologia do neoliberalismo anacrônico da Globonews.
Partidos políticos e lideranças do Congresso.
Contato com altos escalões do Poder..
São conversas em contatos sociais, eventos, visitas, telefones, nas quais vão se firmando consensos aos quais a mídia adere.
A visão sobre Bolsonaro, a estratégia de acuá-lo, acelerar o carro e, depois, recuar, com ele à beira do abismo, obedece ao seguinte raciocínio.
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De fato, Bolsonaro é intimamente ligado às milícias, tem relações diretas ou indiretas com os assassinos de Marielle, é uma ameaça à democracia.
Por outro lado, é o presidente que está viabilizando o desmonte final do estado social, e a implantação do modelo chileno de Paulo Guedes.
Nem vamos discutir a fragilidade do modelo para o país, nem o completo desconhecimento das estruturas de funcionamento do Estado e da sociedade pela equipe de Guedes. Fixemo-nos apenas na tática.
A ideia central é manter Bolsonaro acuado, enfraquecido, mas no poder. E fortalecer a ideia de Paulo Guedes e de suas reformas como âncora do governo. É o que está ocorrendo, ou não?
Por essa tática, seria um roteiro simples.
Primeiro, viabilizam-se as reformas. Quando Bolsonaro não tiver mais serventia, tiramos da gaveta o caso Marielle, o porteiro, obstrução de Justiça, as dezenas de quebras de decoro e o colocamos para fora. E entronizamos Luciano Hulk no seu lugar.
Dá para entender o silêncio sepulcral de Luis Roberto Barroso, o quiromancista do mercado, ante todos os abusos éticos e morais de Bolsonaro?
É evidente que a visão prospectiva não faz parte do receituário desse pessoal. Suponha-se que a economia comece a engatar. Quais os reflexos da recuperação na imagem de Bolsonaro e, por consequência, no seu poder político, ele que já controla as milícias, os ruralistas, os clubes de tiro, o baixo clero da polícia e milhões de fanáticos terraplanistas que lhe garantem voto?
Não exija desse pessoal nada que vá além dos próximos balanços. A maioria pensa no balanço trimestral. O máximo de longo prazo que enxergam é o balanço anual.
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Sorte é que não são os únicos agentes desse jogo fundamental da civilização contra a barbárie.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)