Presidente deve explicações ao país sobre caso Marielle
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, não podem acionar a PF como se ela fosse uma polícia política. É assim que o presidente quer usar a Polícia Federal quando diz estar conversando com o ministro da Justiça sobre tomar um depoimento do porteiro do seu condomínio no Rio de Janeiro.
Uma investigação tem de obedecer aos requisitos legais e não à vontade do presidente da República de plantão. Tampouco a de um ministro da Justiça. Moro precisa explicar isso ao chefe. Convém lembrar que a PF é política de Estado, não de governo.
A reportagem de ontem do “Jornal Nacional” foi jornalisticamente impecável. Deu o furo: no dia do crime, um acusado de matar Marielle Franco (Élcio Queiroz) entrou no condomínio para encontrar outro acusado (Ronnie Lessa) dizendo que iria à casa de Bolsonaro.
O “Jornal Nacional” deixou claro que informações do dia apontavam presença de Bolsonaro em Brasília, expondo eventual contradição do depoimento do porteiro. Também relatou que o porteiro viu que Élcio se dirigiu à casa de Lessa, não à de Bolsonaro.
A reação de Bolsonaro na live de ontem foi autoritária e desmedida, um misto de seu despreparo para a função e da estratégia de criar conflitos para enfrentar problemas. Ameaçar um veículo de imprensa é crime de responsabilidade. Comportou-se como um ditador ao insinuar que não poderia renovar a concessão da TV Globo. O presidente deve, sim, explicações ao país.
Está anotado no livro de visitantes do condomínio que o suspeito Élcio Queiroz se dirigia à casa de Bolsonaro. Detalhes do carro usado pelo suspeito também estão anotados. Já seria uma trama contra Bolsonaro no dia da morte de Marielle? Claro que não.
Repetindo: é o presidente quem deve explicações ao país. As ligações suas, de seus familiares e de Fabrício Queiroz com milicianos são de conhecimento público e notório.
Claro que o presidente tem o direito de se defender, mas tem de fazê-lo dentro dos marcos legais da democracia.
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