Semanas atrás, o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança conseguiu assinaturas de outros 33 deputados do PSL, não para a restaurar a monarquia, mas para a refundar o partido que os elegeu. O PSL é um caso único de nanico partidário que, embalado pelo fenômeno eleitoral de Jair Bolsonaro, saiu das urnas como a maior bancada na Câmara, com 54 deputados, superando a todas legendas que deram as cartas desde a redemocratização do país.
Esse aparente maioria na grande bancada do PSL é enganadora. Mesmo turbinado por forças palacianas, o manifesto do príncipe já nasceu como uma reação ao fracasso do clã Bolsonaro em tornar Rio de Janeiro e São Paulo como seus grandes feudos. No Rio, o primogênito Flávio Bolsonaro, mesmo enroscado em escândalos, tentou se impor em uma queda de braço com Wilson Witzel (PSC), eleito governador com seu apoio, e tomou uma surra da máquina estadual. Em São Paulo, com a cabeça em Washington, Eduardo Bolsonaro comprou brigou com os principais aliados na campanha eleitoral. Vem sofrendo um revés atrás do outro, inclusive em decisões judiciais, com reversão de intervenções e,m diretórios.
Jair Bolsonaro, chefe do clã, não gosta desse perde e ganha. Desde que suas imposições começaram a ser questionadas, ele resolveu apostar em alternativas ao PSL. Sabe por seu histórico pinga pinga partidário como é difícil confiar nos donos das siglas nesse mercado. Quem tem legenda para alugar também toma seus cuidados para não perder o negócio. É nesse nicho que investidores em nome de Bolsonaro vem buscando oportunidades.
Avançaram em várias negociações que não deram certo. Estiveram perto de um acerto, por exemplo, com o Partido Humanista da Solidariedade, nome pomposo da sigla de centro- direita PHS que elegeu sete deputados federais e nenhum senador em 2018. Mas os dirigentes do PHS optaram por se incorporar ao Podemos, resistiram às pressões e saíram vitoriosos em uma batalha no Tribunal Superior Eleitoral. Desde a campanha eleitoral, o Patriotas entra e sai do balcão de alternativas.
Deputados Luciano Bivar e Eduardo Bolsonaro – Foto Orlando Brito
Nessa terça-feira (8), em mais uma polêmica criada na sua saída do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro, no quebra queixo particular com admiradores, pôs gasolina na fogueira. Ele aconselhou um pretenso candidato à Prefeitura do Recife a se desgarrar do PSL e da parceria com o deputado Luciano Bivar, presidente nacional da legenda, a seu ver ambos “queimados pra caramba”. Não deu motivos. Talvez porque até agora tenha se esquivado das principais denuncias: finge de morto sobre o escândalo sobre a rachadinha com dinheiro público e as ligações familiares com as milícias no Rio de Janeiro e faz vista grossa com o laranjal na campanha eleitoral de seu ministro do Turismo, deputado Marcelo Antônio.
O “vazamento” da censura do presidente ao PSL e a Luciano Bivar incendiou o arraial. Alguns de seus principais dirigentes, como o Major Olímpio e o delegado Waldir, líderes do partido no Senado e na Câmara, reagiram mais ou menos na mesma moeda. Além das reações em entrevistas, gestos aqui e acolá puseram alguma trava. Um deles, no jantar nessa terça-feira de deputados do PSL com o ministro Sérgio Moro, promovido por Luciano Bivar, no restaurante Lakes, tradicional encontro de políticos em Brasília. De acordo com o Estadão, em mesas diferentes, jantaram ali nessa mesma noite os procuradores Deltan Dallagnol e Roberson Pozzonon, chefes da Força Tarefa da Lava Jato, e o ex-senador Romero Jucá, um de seus principais alvos.
O presidente e seus filhos blefam quando desdenham do próprio partido. “É a mesma coisa de alguém que mora sozinho querer sair de casa”, compara o Major Olímpio. Na realidade, os Bolsonaro só pretendem dispensar o PSL se não precisarem abrir mão do dote do partido. É muita grana. Especialistas nessa contabilidade orçam que são centenas de milhões de reais até 2022. Pela legislação, deputados que trocarem de partido, fora da janela eleitoral, não levam a grana institucional e podem perder o mandato. Bons advogados, a serviço de Bolsonaro, buscam brechas. Daí a consulta ao Tribunal Superior Eleitoral sobre em que condições deputados que trocarem de partidos podem levar recursos dos fundos partidário e eleitoral.
Sem os milionários recursos dos fundos partidário e eleitoral, o difícil vai ser motivar qualquer tropa política a trocar o certo pelo duvidoso.
A conferir.
ANDREI MEIRELES ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)