O LIVRO DE JANOT CONFIRMA QUE LAVA JATO GRAMPEOU CONVERSAS DE ADVOGADOS

Não se tratou de delação premiada, confissão sob intensa pressão ou tortura ou grampo de conversa, mas do depoimento para a história de um ex-Procurador Geral da República.

Mesmo assim, o capítulo 5, do livro biográfico “Nada menos que tudo”, de Rodrigo Janot, confirma algumas das principais manobras ilegais da Lava Jato.

O capítulo descreve uma série de visitas que Janot recebeu de advogados tentando amarrar um acordo com as empreiteiras. Visitaram-no José Grossi, Marcio Thomaz Bastos e Celso Villardi. A todos, segundo Janot, teria respondido que qualquer caso de réu sem foro teria que ser negociado com Curitiba. E, para os réus com foro, não esperasse nenhuma iniciativa dele no Supremo. Segundo Janot.

Tempos depois, recebe um telefonema de Deltan Dallagnol que pede para que sejam recebidos na PGR, ele e mais todos os integrantes da Lava Jato de Curitiba.

No capítulo, Janot narra o seguinte:

O grampo nos advogados
Ao fim da fala do coordenador, Santos Lima puxou um papel e, num gesto dramático, acusatório, empurrou-o na minha direção, dizendo:

“Explica isso aí!”

Era a cópia de uma transcrição de interceptação telefônica entre um executivo de uma empreiteira e um advogado, feita pela Polícia Federal com autorização judicial. Um deles fazia menção ao suposto acordo que estaria sendo costurado por Thomaz Bastos comigo e com o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo”

A pressão agressiva sobre o PGR
Nem se analise a circunstância que leva um procurador de primeira instância a enfiar (simbolicamente) o dedo no nariz do Procurador Geral e ordenar “explica aí”, o que é uma boa medida da baixíssima ascendência de Janot sobre seus colegas.

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Mais que isso: revela que não apenas grampearam a conversa de cliente com advogado, o que é proibido pela Constituição, como utilizaram o material para montar estratégias de pressão sobre o PGR.

No livro, Janot se limita a negar o acordo. Nada fala sobre o grampo em advogado, porque provavelmente esses abusos já estavam naturalizados. Sequer reage contra os abusos de um grupo de procuradores de primeira instância agindo agressivamente contra o PGR. Sua reação – com uma profusão de “porras” – é contra a desconfiança de que foi alvo.

O uso da mídia como fator de pressão
O repórter Vladimir Netto, da TV Globo, acompanhou o grupo e estava dando plantão na PGR, esperando a hora de divulgar a renúncia coletiva para todo o país.

Janot conhecia bem os métodos de instrumentalização da mídia. Quando Raquel Dodge se lançou candidata à PGR, houve uma reunião do Conselho Superior do Ministério Público, na qual ele preparou uma armadilha para a rival. Convocou toda a imprensa para a reunião e armou-a com a falsa informação de que Raquel defendia uma medida que, na prática, inviabilizaria a Lava Jato.

Era falso. Raquel apenas encaminhava solicitações do Ministério Público do Distrito Federal para a definição de critérios para a convocação de procuradores para forças tarefas, para não deixar as regionais desguarnecidas. Os critérios sequer arranhavam a composição da Lava Jato.

No mesmo dia, todos os jornais ecoaram as acusações de Janot, sem o menor discernimento.

A frase salvadora
O mais ridículo nessa história é a maneira como Janot diz ter provado sua inocência. Na tal minuta divulgada pelo advogado, aparece a Polícia Federal na frente do Ministério Público Federal. Com base nisso, Janot mostra sua inocência:

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Vocês acham que, se eu fosse fazer um acordo, eu começaria dizendo, como está escrito aqui: ‘A Polícia Federal e o Ministério Público Federal’, dando protagonismo à polícia, e não ao MPF? Vocês acham que eu começaria assim? Claro quenão!”.

Conquistou a plebe. Advogados poderiam ser grampeados, procuradores do interior poderiam usar a Globo para ameaçar o Procurador Geral. Mas colocar a Polícia Federal na frente do Ministério Público Federal, jamais.

Eu os encarei. Um deles se dirigiu a Santos Lima.

“Cara, você acha que o Rodrigo ia fazer isso? Botar a Polícia Federal como protagonista principal num eventual acordo? Isso não existe”, comentou.

É inimaginável um desrespeito desses com procuradores como Cláudio Fontelles, Ella Wieko (preterida por Dilma em favor de Janot) e outras figuras referenciais do Ministério Público Federal. Mas Janot era apenas “um dos nossos”, eleito pela lista tríplice.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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