TRUMP E BOLSONARO, ESTRELAS DE UM MUNDO CADUCO

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Num universo que, para muitos economistas, enfrenta uma ameaça de recessão capaz de devorar as grandes economias do planeta a partir de 2020, é bem possível que os historiadores do futuro venham a descrever a mais recente Assembléia Geral da ONU como uma espécie de Baile da Ilha da Fiscal em escala planetária.

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No Rio de Janeiro de novembro de 1889, o Baile da Ilha Fiscal tornou-se símbolo de um império tropical que viria abaixo seis dias depois, corroído pela incapacidade de seus líderes e dirigentes oferecerem uma resposta a um conjunto imenso de contradições sociais e econômicas acumuladas em décadas.

Na Nova York de setembro de 2019, assistiu-se a um encontro de notáveis de um mundo caduco — para repetir a definição de Drummond em De Mãos Dadas, de 1985 — com governantes incapazes de encarar problemas reais e oferecer alternativas compatíveis com a riqueza de suas economias e o progresso tecnológico dos últimos anos.

Mais influente orador da Assembléia que reune representantes de mais de 190 países, Donald Trump fez um discurso recheado de ameças terríveis contra governos e povos que não se acomodam aos planos de pilhagem e enriquecimento de Washington. No fim do dia, recebeu a notícia de que pode perder o pescoço presidencial antes de terminar o mandato, num comprometedor processo de impeachment aberto no Congresso.

Na melhor das hipóteses, o presidente da única potencia mundial passará o próximo período em movimentos defensivos, em sinais de fraqueza incompatíveis com a arrogância de quem, poucas horas antes, tentou dar lições aos povos e países do mundo. Pretendeu explicar detalhadamente a todos como cada um deve comportar — no plano da sobrevivência, da cultura e da cidadania, até.

Primeiro a falar por benefício regimental, Jair Bolsonaro confirmou que é incapaz de representar um país de 210 milhões. Fez um discurso sectário de chefe de facção, típico das autoridades mais perigosas que a vida pública já foi capaz de inventar. Não têm compromissos com a verdade nem com a democracia. São capazes de mentir e tentar criar regimes de força sempre que se tornam incapazes de argumentar e convencer. Na viagem de volta para um país sem qualquer perspectiva de vida melhor, encontrou uma nação de luto pelo assassinato de Agatha, 8 anos, vítima da violência policial que seu governo estimula e protege desde sempre.

Separados pela posição de dominante e dominado, traduzida por uma diferença de infinitos trilhões de dólares no PIB de seus países, Trump e Bolsonaro deixaram a Assembléia da ONU igualados por um ponto comum. Confirmaram que são incapazes de oferecer uma única idéia para aliviar os grandes dramas que atingem a grande maioria dos homens e mulheres de todo o mundo. Nada tiveram a dizer sobre a desigualdade e a falta de oportunidades, o desemprego e o corte nos investimentos produtivos, causa e efeito da fraqueza das economias e dos grandes dramas sociais do planeta, aqui e agora — e, quem sabe, pelos próximos anos à frente.

Embora nunca tenha atuado diretamente na solução de problemas econômicos, a ONU deve boa parte de sua legitimidade e prestígio às décadas de crescimento e prosperidade que a humanidade conheceu nas décadas posteriores a sua fundação, em 1947.

Foram os “Trinta Anos Gloriosos”, quando os governos de países desenvolvidos lideraram três décadas de crescimento contínuo, puxados por uma taxa anual de 5% na produção industrial.

Ao encerrar-se a Assembléia de 2019, nada havia de semelhante no horizonte. Só pobreza e truculência.

Alguma dúvida ?

PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG 247″ ( BRASIL)

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