AS CONTAS DE GREENWALD ESTÃO NA WEB: A IMPRENSA TEM PREGUIÇA DE APURAR OU É CÚMPLICE ?

Trabalhando sozinho, nem sempre tenho tempo de parar alguns minutos para aprofundar apuração de fatos, algo muito diferente de redações que contam com muitos profissionais para fazê-lo.

Hoje cedo, tive este tempo e não demorou mais que 15 minutos para checar a versão dada ontem por Glenn Greenwald sobre o movimento – que se apontou como suspeito – na conta bancária que tem seu marido e sócio, o deputado federal David Miranda.

Não demorou porque é público e está no site da própria mantenedora do The Intercept, a First Look Midia, o que é explicado com todas as letras na seção “Sobre” do site:

The Intercept é uma publicação da First Look Media. Lançada em 2013 pelo filantropo e fundador do eBay, Pierre Omidyar, a First Look Media é uma empresa multimídia dedicada a apoiar vozes independentes em jornalismo investigativo, cinema, arte, cultura, mídia e entretenimento. A First Look Media produz e distribui conteúdo em diversos formatos, incluindo longas, curtas, podcasts, mídia interativa e jornalismo narrativo, seja com nossa propriedade intelectual digital ou através de parceiros.

O lançamento do site e sua vinculação foram fartamente noticiados nas publicações voltadas para a área de comunicação, como o Knight Center for Journalism in the Americas.

Acessando a página da FirstLook, que tem, nos EUA, como toda organização sem fins lucrativos, a obrigação de prestar detalhadas contas de suas receitas e gastos, não há nenhuma dificuldade em ter acesso – eles próprios disponibilizam – aos relatórios anuais (IRS) que entregam ao Departamento do Tesouro do governo norte-americano.

Estão todos lá, de 2013 a 2017 e acessei os três últimos.

A forma com que Glenn Greenwald recebe é pela empresa Enzuli Management LLC, que mantém em Nova York, registrada no Departamento de Estado local sob o número 4477324 e na qual tem como sócio David Miranda e os valores foram, em dólares, os seguintes: 2015 – US$ 518 mil; 2016 –US$ 476,5 mil; 2017 -US$ 370 mil.

Não sou especialista, mas creio que esta renda não é tributável no Brasil. Lembro que, quando constituí o Tijolaço como empresa, uma amiga, auditora da Receita Federal, sugeriu que eu abrisse uma conta no Banco do Brasil nos EUA para receber os pagamentos dos anúncios do Google , feitos de lá. Claro que não o fiz, porque ser de esquerda, aqui, sempre foi tratado como “crime”.

Os valores deixam claro, portanto, que Glenn e David não teriam razão para andarem às voltas com “rachadinhas” de servidores do gabinete.

Como o próprio Greenwald disse que iria exibir os documentos e estes são públicos e publicados no próprio site da organização que mantém o The Intercept, não vejo problema ético em dar acesso a eles aqui.

Problema ético, para mim, é deixar que uma armação para desacreditar o jornalismo corra sem resposta e sem defesa de órgãos de imprensa.

FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)

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