TODO MAPA DO CRIME PRECISA DE CONTEXTO. O JORNALISMO DE DADOS PODE LEVAR A ISSO A OUTRO NÍVEL

Reprodução/Nieman Lab

NIEMAN LAB 
02.set.2019 (segunda-feira) – 5h50
atualizado: 02.set.2019 (segunda-feira) – 6h52

*por Christine Schmidt

Muito dinheiro: ✔

Muitos dados locais: ✔

“Cérebros em abundância”: ✔

Futuro das notícias locais: to be determined.

Quando o professor da Universidade do Sul da Califórnia e acadêmico do Wall Street Journal Gabriel Kahn recebeu parte de uma doação feita à escola de Jornalismo da USC, sentou-se com 1 professor do departamento de Ciência da Computação. Kahn queria saber o que aquele setor estava aprendendo e como isso poderia ser utilizado com o jornalismo –mais especificamente, nas notícias locais.

Os funcionários da CS foram contratados pelo departamento de trânsito de Los Angeles por 5 anos para analisar seus dados. Uma carga gigantesca de dados (por exemplo, todos os sinais de diretores de estradas que podem ser usados para calcular a densidade e velocidade do tráfego) tinha sido estocada.

Os dados continuavam chegando, mas também podiam ser divididos em grupos menores para áreas diferentes. “Poderíamos organizar esses grandes conjuntos de dados em centenas de conjuntos localmente relevantes e transformá-los em algo como 1 feed de notícias local?”, perguntou Kahn.

Foi uma grande pergunta. Mas Kahn –junto com o presidente do departamento de Ciência da Computação, Cyrus Shahabi– tinha grandes recursos para trabalhar: a subvenção era de US$ 120 mil anuais, por 5 anos. A equipe agora inclui cientistas de dados para depurar os números, designers para visualizar as tendências e jornalistas para contextualizar o todo. Esse é o Crosstown L.A., 1 projeto de notícias sem fins lucrativos baseado na USC, mas que tem potencial para se expandir para outras regiões.

Crosstown usa dados publicamente disponíveis sobre tráfego, qualidade do ar e crime de Los Angeles para analisar tendências e relatar histórias locais a partir disso. Kahn comparou com o comissário de política que compartilha atualizações sobre as estatísticas anuais de crimes da cidade.

Como os números estão impactando cada bairro? É nesse ponto que Crosstown está tentando chegar, embora ainda esteja na fase de desenvolvimento (com 1 plano para monetização futura).

Eis algumas reportagens recentes:

  • Até agora, o índice de crimes em LA em 2019 está caindo“aumentos acentuados nos preços das casas em bairros como West Adams levaram a mudanças na demografia e na segurança pública. O bairro registrou aumento de 13% no crime durante o 1º semestre de 2019. No entanto, não está claro se esse aumento foi devido a 1 crime ou a 1 monitoramento mais intenso”.
  • Terremotos recentes disparam 1 alarme para modernização: “quase 4 anos depois da aprovação da ordenança… apenas 18% dos edifícios estão prontos para terremotos. Quase 9.700 proprietários de prédios apresentaram pelo menos as permissões iniciais para começar o trabalho. Cerca de 2.200 contrataram funcionários e têm projetos em andamento. E 269 proprietários, de acordo com o Building and Safety, não fizeram absolutamente nada”.
  • O suspeito usava 1 capuz: “na cidade de Los Angeles, o moletom é mencionado nos dados de crimes do Departamento de Política para descrever o que suspeitos usavam no momento de 1 crime. O departamento cataloga isso no mínimo desde 2010, quando começou a disponibilizar os dados. Mas, no ano seguinte à morte de Martin, o número de crimes relatados com ‘suspeito usava capuz’ disparou. Foram 1.243 relatórios em 2013, aumento de 92% em relação a 2012”.

Kahn espera que, à medida que a equipe desenvolva seu sistema para analisar e formular dados (automatizado em 1 nível menor neste momento), possa possibilitar mais conjuntos de dados e mais localizações. “Quando analisamos 18 rotas de transporte diferentes, criamos 18 hipóteses diferentes, de certa forma –e também com 18 públicos distintos”, disse ele.

Os dados nem sempre são completamente comparáveis. Os relatórios diferem da versão dos departamentos policiais e certos tipos de roubo podem ser classificados de maneira diferente em diferentes áreas, por exemplo. E os policiais nem sempre registram a hora de 1 crime; nesse caso, consideram automaticamente como meia noite.

Como você consegue dar a dimensão ao fato? “Aprendemos muitas das idiossincrasias dos dados policiais. Você precisa se aproximar dos dados e entender suas falhas e limitações”, disse Kahn. Com a prática, “nos sentimos muito ais confiantes sobre o que podemos relatar”.

Até agora, Crosstown se concentrou principalmente no crime, porque os dados estão amplamente disponíveis. Mas “não queremos estar no ramo de crime [notícias], queremos estar no ramo de dados”, disse Kahn. Reportagens sobre trânsito e qualidade do ar estão esperando repercussão.

No caso das reportagens de saúde e qualidade do ar, Crosstown consulta especialistas em saúde pública sobre como interpretar e compartilhar com responsabilidade os dados. Os leitores enviam 1 e-mail a Kahn pedindo conselhos sobre segurança ambiental em certas áreas, disse ele. A equipe quer garantir que as pessoas possam tirar as conclusões corretas. É 1 dos motivos pelos quais eles incluem uma seção “como fizemos” no final de cada texto, explicando as fontes de dados e as interpretações.

A KPCC e a LAist estão, em conjunto com a Crosstown, publicando relatórios sobre atrasos no trânsito. Uma doação de US$ 25.000 da Facebook Comunnity Network ajudará a Crosstown a imaginar mais maneiras de compartilhar seus dados e colaborar com mais agências de notícias locais no sul da Califórnia.

A equipe também compilou suas descobertas em 1 pager e as levou para as reuniões de bairro. No futuro, Khan está pensando em desenvolver boletins hiperlocais e criar 1 programa de associação.

“Se pudermos levar dados atualizados sobre crime, imóveis e educação pública e agrupá-los em 1 boletim semanal, seriam 110 boletins diferentes em toda cidade”, disse ele.

CHRISTINE SCHMIDT ” NIEMAN LAB” ( EUA) / ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)

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*Christine Schmidt faz parte da equipe de redação do Nieman Lab, após ter participado da Google News Lab Fellow de 2017. Formada pela Universidade de Chicago onde estudou políticas públicas, sua carreira em jornalismo foi moldada por estágios no Dallas Morning News, Snapchat e NBC4 em Los Angeles.

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