“Líderes mundiais pressionam o Brasil para desviar de rota suicida em incêndios na Amazônia” (manchete do jornal inglês Guardian).
Finalmente caiu a ficha do inominável presidente que desgoverna e destrói o Brasil há quase oito meses.
Diante da reação mundial, ao perceber que não adiantava mais culpar as ONGs nem a imprensa pelas queimadas na Amazônia, Bolsonaro resolveu montar um “gabinete de crise”, chamar as Forças Armadas e convocar uma rede nacional de TV para falar ao país.
Como se o país estivesse em guerra, o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, atendeu prontamente ao chamado do ex-capitão, e advertiu o resto do mundo em cerimonia do Dia do Soldado:
“Aos incautos que insistem em tutelar os desígnios da brasileira Amazônia, não se enganem, os soldados do Exército de Caxias estarão sempre atentos e vigilantes, prontos para defender e repelir qualquer tipo de ameaça”.
De que forma isso será feito é um mistério, pois ainda esta semana o próprio presidente informou que o Exército está sem recursos até para fornecer o rancho dos recrutas, o que o levará a dispensar um terço do contingente.
Mesmo assim, o capitão anunciou, na manhã desta sexta-feira, que deverá assinar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para que o Exército auxilie no combate às queimadas na Amazônia, que o ministro do Meio Ambiente, o inacreditável Ricardo Salles, insiste em atribuir ao “sensacionalismo da imprensa”.
Ao ser questionado se pretende liberar recursos financeiros para essa operação, o presidente respondeu acacianamente que “o problema é ter recursos para isso”.
Agora é tarde, não tem mais volta, o estrago está feito.
O mundo não confia mais no governo brasileiro.
Apenas 20 dias após a assinatura do Acordo Comercial entre a União Européia e o Mercosul, o presidente da França, Emmanuel Macron, acusou o presidente brasileiro de mentir ao assumir compromissos em defesa do meio ambiente na cúpula do G-20, em junho.
Segundo Macron, isso inviabiliza a ratificação do acordo, no que foi seguido pelos principais países europeus, um a um, a começar por Alemanha e Grã-Bretanha.
“Não há nenhuma chance de votarmos a favor se o Brasil não honrar seus compromissos ambientais”, afirmou o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar.
“Os esforços do presidente para culpar ONGs de defesa do meio ambiente pelo fogo são orwellianos”, acrescentou Varadkar, aludindo às denúncias de totalitarismos feitas pelo escritor inglês George Orwell.
À parte o fato de que Bolsonaro e seus ministros certamente nunca ouviram falar em Orwell, que devem achar um comunista vulgar, o mundo agora sabe quem é Bolsonaro.
“A Amazônia paga pela política do presidente brasileiro”, destacou o jornal francês Le Monde, um dos mais respeitados do mundo.
Brasil, Amazônia e Bolsonaro serão o principal tema da reunião do G-7 neste final de semana, na França.
Antes que os governantes das principais economias do mundo ocidental tomem suas decisões, os consumidores europeus já desencadearam uma campanha nas redes sociais para boicotar a compra de produtos brasileiros: #boycottbraziliasnsfood.
Mais do que tudo, é isso que deve ter assustado o pobre capitão que não nasceu para ser presidente, pois entre seus seguidores mais fiéis e pródigos financiadores estão os donos do agronegócio.
Para agradá-los, Bolsonaro liberou o porte de armas dentro de suas propriedades, cancelou multas por desmatamento e queimadas, tirou a fiscalização do Ibama, demitiu o presidente do Inpe e fez tudo o que eles queriam.
Só que, agora, eles correm o risco de não ter mais para quem vender a carne e a soja que ocuparam o lugar da floresta queimada.
Para onde olha, Bolsonaro só vê encruzilhadas à sua frente.
Eleito graças à Lava Jato de Moro que prendeu Lula, deu um ministério ao ex-juiz e agora não sabe o que fazer com ele, dono dos segredos do esquema Queiroz com as milícias.
Virando para outro lado, na tentativa de blindar a família, bateu de frente com a Polícia Federal, o Coaf e a Receita Federal.
Tornou-se um vilão mundial, ao ver, de um dia para outro, as embaixadas brasileiras na Europa cercadas por manifestantes protestando contra o governo fascista que está botando fogo na Amazônia.
Em tempo: me lembrei agora que foi também num mês de agosto que Getúlio se matou e Jânio renunciou.
Foi num 25 de agosto, Dia do Soldado, há exatos 58 anos, que Jânio entregou sua carta de renúncia, com apenas seis meses de governo, alegando que nada poderia fazer contra as “forças ocultas”.
Dias antes da posse de Bolsonaro, notando algumas semelhanças de personalidade, perguntei num artigo publicado na Folha: “Vem aí outro Jânio Quadros?”.
A diferença é que, ao que se saiba, Bolsonaro não bebe.
Quais seriam então as “forças ocultas”? As ONGs internacionais financiadas pelo comunismo dos países capitalistas?
Vai saber o que se passa pela cabeça dele com tantos problemas para resolver.
Eu não gostaria de estar na pele do capitão.
Bom final de semana.
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)