Das dezenas de comentários que recebi, no GGN, Facebook e Youtube, sobre o discurso do Ministro Luiz Edson Fachin, fazendo profissão de fé na legalidade e no respeito à Constituição, não houve um só que mostrasse confiança na conversão do Ministro.
A incredulidade tem base forte, na guinada radical anterior de Fachin, de advogado sensível às questões sociais, ao vingador inclemente, endossando todos os abusos da Lava Jato e recorrendo a malandragens processuais para adiar análises de mérito, em questões em que a própria Constituição estava em jogo. O discurso no TRE do Paraná representaria outra guinada radical, ou apenas uma limpeza retórica de biografia, sem nenhuma consequência nos seus atos futuros?
Mesmo assim, continuo acreditando nos processos de conversão, ao qual já se curvaram alguns dos principais estimuladores do ódio e da delação, do estupro às leis à Constituição no período anterior, como Ministros do STF, jornalistas, políticos que, a exemplo de Paulo, o apóstolo, de repente viram a luz, o anjo Gabriel da democracia tocando-os com os raios da verdade. Não são apenas os fundamentalistas que se rendem aos eflúvios da fé.
Não me tratem como Poliana. Sei que não há motivação nobre nesses aggiornamentos, mas apenas a continuidade da instrumentalização dos instrumentos democráticos: em minhas mãos, estupro; nas de terceiros, denuncio. Se a democracia e a defesa da Constituição fossem valores imutáveis em suas cabeças, não teriam aviltado tanto no período em que a musa maior das leis estava em suas mãos.
É por aí que se pode ter esperanças em Fachin, de quem não se pode duvidar da enorme capacidade em analisar os rumos dos ventos políticos. In Fachin, we trust. Não apostaria um centavo na sinceridade da sua conversão. Mas apostaria uns trocados em algumas mudanças de conduta e em sua enorme capacidade em identificar os rumos dos ventos. A única incógnita é que, nesses tempos de caos, os movimentos dos ventos são muitas vezes ilusórios.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)