O FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITICEIRO

CHARGE DE AROEIRA

Provar do próprio veneno. Era assim que se dizia quando apareceram as primeiras provas contra políticos do PT ainda nos primórdios do Mensalão.

O ministro Sérgio Moro está abalado pela denúncia de má-fé, na leitura ao pé da letra das mensagens de celular, convertendo inocentes conversas de corredor em conspirações suspeitas ou até criminosas ilegalidades. Foi com este mesmo veneno amargo que as bancadas petistas infernizavam a vida dos governantes adversários nos seus tempos de oposição – tendo de engolir em seco, depois, quando seus próprios quadros se viram envolvidos em malfeitos.

Como o Caixa 2,…

Levadas à ponta de faca, estas lacônicas e pouco precisas trocas de mensagens entre juiz com procuradores, delegados e outros agentes judiciais, desandou em escândalo. Tal qual o antigo e tolerado Caixa 2 das campanhas, prática aceita e praticada por todos os políticos, partidos e organizações do gênero, que botou tanta gente na cadeia ou lançou nos infernos do linchamento midiático.

Era ilegal, mas sua prática quase uma franquia consuetudinária. De fato, conversas entre agentes da lei podem ser consideradas um rompimento da isenção.

Por isto são proibidas, embora largamente praticadas. Como as contribuições de campanha. De uma hora para outra, desabaram sobre a cabeça dos atores.

O Caixa 2 sempre existiu, desde os tempos dos Tribunos da Plebe na Roma antiga. No Brasil, entretanto, ganharam regras informais a partir das eleições para governadores em 1982, quando a tevê e a necessidade de atingir públicos de centena de milhões elevou o custo acima mesmo da capacidade de milionários e potentados. As empresas privadas entraram abertamente no jogo.

A prática foi convenientemente proibida. Sem controles, não precisaria ser declarada.

Aí criou-se um canal alternativo dos cofres dos partidos para o bolso de políticos e operadores. Chegar aos níveis de bilhões, como se verificou ultimamente, foi um passo.

Então a justiça saiu atrás dos infratores, usando de instrumentos incomuns, como a pressão da mídia para equilibrar a força de juízes e promotores de primeira instância em contraponto ao poder econômico descomunal dos acusados. Muita gente foi para a cadeia.

…prática antiga

Com as denúncias dos hackers, o veneno do denuncismo entrou na circulação sanguínea dos algozes da Lava-Jato. O principal alvo é o ministro Sérgio Moro, candidato apontado a presidente da República nas próximas eleições.

Segundo observadores, se Moro conseguir resultados palpáveis na guerra contra a criminalidade poderá manter sua imagem de herói nacional e vencer a eleição. É um desafio político.

Na verdade, o combate a corrupção é coisa de classe média, dos meninos bem vestidos da Avenida Paulista. O povão quer saber de bandido em cana.

“Na verdade, o combate a corrupção é coisa de classe média,
dos meninos bem vestidos da Avenida Paulista.
O povão quer saber de bandido em cana”.
A guerra contra a bandidagem é o verdadeiro desafio. Moro tem dois obstáculos a vencer: conseguir meios eficientes e visíveis para mostrar resultados com credibilidade e, antes, passar no Congresso Nacional sua legislação draconiana, capaz de produzir o barulho e o impacto necessários.

Porém, veio uma pedra no sapato, que dificulta muito sua caminhada. Por mais que se defenda, sempre ficará a acusação, como uma mancha.

Esta é a regra do linchamento midiático. Moro já caiu na rede. Não importam muito as razões e as desculpas.

A popularidade é volúvel

O ministro é um juiz experiente, tanto que operou sua Vara, em Curitiba, com alto grau de confirmação de suas sentenças por tribunais superiores. Como político, porém, é ainda novato, como sugerem esses fatos recentes.

Moro desencadeou forças contrárias que não conseguiu ainda deter, não obstante a resistência de sua popularidade e credibilidade em certa parcela da população. Entretanto, a popularidade é uma deusa volúvel.

O juiz de Curitiba está em perigo. As forças políticas podem engoli-lo, levando junto sua jornada judicial.

Moro estaria como o garoto Dave na peça O Aprendiz de Feiticeiro, que vê o velho bruxo fazer um encantamento e tenta, depois, sozinho, repetir o sortilégio. Desencadeia as forças que não consegue deter, criando uma balbúrdia incontrolável.

As vassouras, baldes e objetos dançam sem controle. Parece ser algo assim que estaria a acontecer na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

JOSÉ ANTONIO SEVERO ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)

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