Como se costuma dizer nos melhores ambientes de trabalho, não se deve contratar quem não se pode demitir. E aconteceu o que parecia inevitável – e nunca deixou de soar altamente imprudente – para um presidente capitão reformado do Exército que, ao formar seu ministério, se cercou de generais estrelados. O capitão demitiu um general. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, que vinha tendo desentendimentos com o astrólogo Olavo de Carvalho, “guru” do presidente e também de seus filhos, levou nessa quinta, 13, uma botinada que o jogou para fora da Esplanada dos Ministérios. É a primeira baixa de um militar no ministério de Jair Bolsonaro – particularmente de um general do grupo escolhido a dedo pelo presidente para cargos estratégicos no governo, a maioria dentro do Planalto. Se é verdade que, eleito presidente, Bolsonaro tornou-se comandante-em-chefe das Forças Armadas, portanto seu superior hierárquico, também é verdade que isso não diminui o constrangimento, o estranhamento e a tremenda saia justa de mais essa crise no âmago do governo.
Um integrante do Palácio do Planalto, ouvido pelo UOL, um dos sites que primeiro noticiaram a demissão de Santos Cruz, usou a expressão “freio de arrumação” para explicar a surpreendente demissão. Não se sabe quem freou, mas não se conseguiu perceber qual foi a arrumação. Ao contrário. Analistas dizem que a decisão, que soa como uma vitória do chamado “grupo olavista”, pode incomodar o resto da cúpula militar, incluindo aí o vice-presidente Hamilton Mourão – seu companheiro de chapa e o único que não pode demitir -, Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e o chefe da Secretaria-Geral, Floriano Peixoto. Cruz é o terceiro ministro a cair no governo depois dos civis Gustavo Bebbiano (Secretaria Geral), por causa da crise dos laranjas do PSL, e Ricardo Vélez Rodrigues (Educação), pelas falhas na gestão da pasta.
Se a saída de Santos Cruz já soa estranha, não parece coerente que seja substituído por outro companheiro de farda, no caso o general Luíz Eduardo Ramos Baptista Pereira, que é Comandante Militar do Sudeste – portanto, um militar ainda mais graduado. Ele também comandou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti – passagem obrigatória de dois a cada três generais convocados por Bolsonaro – e foi vice-chefe do Estado-Maior do Exército. A informação foi confirmada pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, aliás, outro militar. Como não se imagina que o novo general seja um “olavista”, é razoável supor que, fora a ousadia de se demitir um ministro-general, nada se resolveu no embate entre dois dos grupos que formam o estranho ministério Bolsonaro. General da reserva, Santos Cruz foi alvo no mês passado de ataques do ideólogo de araque Olavo de Carvalho, avalizados pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro. O vereador foi pivô da crise que resultou na demissão de outro ministro: Gustavo Bebianno, da Secretaria Geral da Presidência.
Bolsonaro parece só ter trocado o móvel da sala. Mas esqueceu a janela aberta para a entrada de outras ventanias e tempestades. Aguarda-se o primeiro tuíte ou vídeo no youtube do tresloucado astrólogo Olavo de Carvalho xingando o novo general do pedaço. E la Nave va.
GUSTAVO MIRANDA ” BLOG 247″ ( BRASIL)