A MORTE DE UM VERDEIRO REPÓRTER

Rossi fazia questão, sempre, de se apresentar como repórter, mesmo o repórter sendo o degrau mais baixo na hierarquia dos jornais – por uma profunda distorção do modelo.

Otávio Frias, o publisher que construiu a Folha de S.Paulo, era uma personalidade fascinante. Frio nos negócios, objetivo, tinha especial solidariedade com as pessoas que sofreram quedas na vida. Talvez por experiência própria, pelo que sentiu no período entre a quebra do Banco Nacional de Investimento – do qual era sócio – e seu recomeço.

Certa vez, me disse que Clóvis Rossi o emocionava por sua trajetória, de diretor de redação do Estadão, em uma fase esplendorosa do jornal – quando denunciou as “mordomias” de Brasilia, em parceria com Ricardo Kotscho – e, depois, fora comunicado de sua demissão pelo porteiro da casa, que impediu sua entrada. No entanto, como repórter, Rossi dedicava-ser a cada reportagem com o afinco de um jovem e a sabedoria trazida pela experiência. Não recusava pautas, e essa humildade comovia o velho Frias.

Rossi retribuía o reconhecimento de Frias, tratando-o, em suas colunas, como “o sábio do 6ª andar”, o andar da diretoria da Folha.

Era a solidariedade de quem passara, antes, por ascensão e queda similar. Amargou a quebra do banco, passando por momentos difíceis, conforme conta sua biografia, para depois renascer. Isso o fazia solidário com todos que chegaram ao apogeu e experimentaram quedas.

Não era apenas Rossi. O Conselho Editorial da Folha, ao qual pertenci por 15 anos, tinha também grandes jornalistas do passado, como Luiz Alberto Bahia, Oswaldo Peralva, Jânio de Freitas, que depois de uma passagem histórica pelo Jornal do Brasil, renasceu com toda intensidade como colunista do jornal.


Rossi fazia questão, sempre, de se apresentar como repórter, mesmo o repórter sendo o degrau mais baixo na hierarquia dos jornais – por uma profunda distorção do modelo. Sempre foi, efetivamente, o grande repórter, capaz de encarar grandes reportagens continuadas, especialmente nas coberturas internacionais. Diferente de Jânio, que é o colunista por excelência, buscando as informações básicas para a compreensão dos fatos políticos.

Deixa um legado, em um momento em que a rapidez das notícias, o empobrecimento das redações, reduz cada vez mais o papel do personagem mais relevante do jornal: o repórter. E, principalmente, como orientador dos mais jovens.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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