De fato, o restante da mídia já rifou o ex-juiz solenemente, porque sabe que novas denúncias virão nas reportagens do site The Intercept.
Mas só o que já foi divulgado seria suficiente para Moro ser demitido do governo, e Deltan Dallagnol afastado da operação e investigado pelo Ministério Público Federal.
Até o presidente Jair Bolsonaro, que de bobo não tem nada, está se fingindo de morto diante do maior escândalo da história da Justiça brasileira que envolve o seu superministro.
Na terça-feira, o capitão convidou o ministro para passear de lancha e depois o condecorou com uma medalha da Marinha, mas quando foi perguntado sobre os vazamentos das conversas de Moro virou as costas e encerrou a entrevista.
Passadas 72 horas, Bolsonaro continua em obsequioso silêncio sobre o assunto que provocou o maior abalo no seu governo até agora.
Sem em nenhum momento desmentir a veracidade das mensagens trocadas com Dallagnol e outros procuradores, Moro e a Globo continuam insistindo em reduzir o caso a um “vazamento criminoso” de conversas particulares feito por “hackers”, como se não tivessem usado os mesmos métodos durante a Operação Lava Jato.
Greenwald já desmentiu a história dos “hackers”, garante que recebeu as gravações de uma fonte anônima e promete novas revelações sobre as conexões espúrias da Lava Jato com a mídia conservadora.
“Os jornalistas pararam de investigar e questionar a Lava Jato e simplesmente ficaram aplaudindo, apoiando e ajudando”, afirma o jornalista na entrevista à Pública.
No caso da Globo, que só comenta o crime praticado pela fonte de Greenwald, e não mostra interesse no conteúdo das gravações, chega a ser patético o comportamento dos seus profissionais.
É até um desperdício: para que tantos comentaristas globais, se todos repetem sempre a mesma coisa, de acordo com o script da emissora?
O noticiário parece um realejo que toca em todos os telejornais do grupo, tentando distrair a platéia sobre o que realmente interessa nessa história: o modus operandi do crime cometido por agentes públicos para condenar Lula e tirá-lo da disputa presidencial.
Num momento em que a empresa enfrenta dificuldades financeiras e perde bons profissionais para a concorrência, não dá para entender a postura arrogante da Globo, na mesma linha de Moro e Dallagnol.
Para sair dessa encruzilhada, voltar a fazer bom jornalismo, que a Globo sabe fazer, respeitando a verdade factual, com pluralidade de opiniões, talvez ainda seja a melhor estratégia.
Moro, Dallagnol e todos os procuradores da força-tarefa de Curitiba que cuidem das suas próprias defesas.
E vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)