A retórica de Guedes é a da lacração, as frases de impacto sem nenhuma fundamentação mais sofisticada, montadas de orelhada. E mostra também a lógica de um país atrasado em todas as frentes, especialmente em relação a Petrobras.
Certa vez a Globonews convidou Armínio Fraga e Guido Mantega para um debate sobre economia. A intenção óbvia era permitir que o brilhante Fraga, o homem que trabalhou para George Soros, que conhece as entranhas dos mercados, arrasasse o pobre Mantega, economista visto como limitado até por sua escola de pensamento.
Para surpresa geral, Mantega expos de maneira clamorosa a falta de conhecimento de Fraga sobre fatos econômicos internos e internacionais contemporâneos. Fraga não conseguira sair dos limites do padrão compro-vendo de ativos financeiros.
Paulo Guedes é pior.
Sua fala sobre o gás, colocando a Rússia na condição de país não produtor mostra uma ignorância à altura dos piores Ministros de Bolsonaro. A Rússia não é apenas o maior produtor de gás do planeta, como Guedes não acompanhou sequer as discussões sobre o gasoduto Russia-Alemanha, com profundas implicações geopolíticas.
Comportou-se como o inacreditável Ministro da Educação, que confundiu R$ 500 mil com R$ 500 milhões e, quando os jornalistas manifestaram estranheza com o valor, atribuiu o milagre da redução ao gênio de um assessor que acabara de ser nomeado.
Trata-se de uma ignorância crassa, bem de acordo com esses tempos de terraplanismo, de palpites leigos e de lacração. E fica mais chocante quando se compara com economistas históricos, como Celso Furtado e sua visão sistêmica de desenvolvimento, ou de Otávio Gouvea de Bulhões e Roberto Campos discutindo a organização das economias no pós-guerra.
A retórica de Guedes é a da lacração, as frases de impacto sem nenhuma fundamentação mais sofisticada, montadas de orelhada. E mostra também a lógica de um país atrasado em todas as frentes, especialmente em relação a Petrobras.
O excesso de pragmatismo político do PT expôs de maneira inédita a Petrobras, abrindo espaço para o ativismo político da Lava Jato. Depois, a compressão dos preços, ao mesmo tempo em que a Petrobras era incumbida do enorme desafio de explorar o pré-sal, permitiu que uma enorme manipulação midiática vaticinasse a quebra da empresa – enquanto a Petrobras colocava com sucesso, no mercado americano, por investidores bem informados, que sabiam que os problemas enfrentados pela empresa eram passageiros. Por aqui, escondeu-se até os impactos da queda do preço do petróleo nos resultados da empresa, afim de maximizar as denúncias de corrupção
A estratégia posterior, de Pedro Parente, foi tratar a Petrobras como uma empresa privada, que só presta contas a seus acionistas. Cometeu-se essa loucura, dos preços internos acompanhando os mercados internacionais, e aumentaram-se substancialmente os preços dos derivados, inviabilizando o gás nas casas de menor renda, voltando-se aos tempos da lenha.
Agora, Guedes diz que o preço do gás é caro por culpa do monopólio da Petrobras. E se propõe a reduzir 6 vezes mediante a mera mágica da privatização.
Qual a diferença de Guedes e de outros espécimens do zoológico bolsonarista, como Damares e Weintraub?
Não adianta. É um pais atrasado, com uma opinião pública sub-informada, massa de manobra para qualquer demagogo de plantão.
Como bem lembrou o economista Rogério Werneck, hoje no Estadão, foi o terrorismo de Guedes que travou os investimentos na economia. Se o país pode acabar se a reforma não for aprovada, quem vai se arriscar a investir?
Ou seja, o fator estultice está precificado na queda do valor Brasil no mundo. Aliás, relativamente precificado porque diariamente estão sendo batidos todos os recordes de idiotice institucional.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)