Reproduzo um trecho da reportagem de Felipe Silveira, no jornal Mirante, de Joinville, Santa Catarina. É um retrato, cru e doloroso, do que se tornou a arrogância de aventureiros endinheirados sobre o poder público no Brasil.
O notório Luciano Hang, dono das lojas Havan e escudeiro de Jair Bolsonaro, depois de falar que o “problema ambiental é o verdadeiro câncer nesse país”, discorreu sobre como as autoridades públicas devem tratar as questões dos empresários.
É um retrato do faroeste – no dinheiro e logo na bala – que está se tornando o Brasil.
Se o Bolsonaristão fosse um país, à semelhança do presidente Jair Bolsonaro, a Hanglândia seria uma de suas grandes capitais. Teria muito verde, mas nas camisetas, muito diferentes de seus morros, todos carecas. Em sua longa fala na câmara joinvilense, Luciano Hang falou sobre o Brasil e sobre o que pensa para o país.
Ele começou o discurso de forma amena. Elogiou a participação do público, disse que o problema [do terreno para uma nova loja] em Joinville já estava resolvido e que não veio “botar fogo” na cidade. Aos poucos, porém, ofereceu sua performance aos joinvilenses. Em relação ao vídeo que desencadeou o desentendimento público entre ele e a Prefeitura, garantiu que não foi pensado para atacar o poder público: “Se fosse, seria muito mais duro”.
Aos poucos, defendeu suas ideias para facilitar a vida dos empresários, ignorando que elas passam por cima de regras estabelecidas. Leis que protegem o meio ambiente e garantem direitos trabalhistas. Citou exemplos de cidades que estregam o alvará para a construção por ordem do prefeito, sem ligar para as normas.
“Tem cidade que o prefeito fala assim: ‘Luciano, começa a construir, a gente cuida da burocracia e vocês cuidam da obra. Quando a obra estiver pronta, a burocracia está encerrada’”, exemplificou.
Ele também atacou as universidades federais, por formar comunistas, e disse que o Brasil é um país comunista. Também acusou os comunistas de serem ambientalistas. Ele falou como se fosse algo ruim.
Durante a reunião, a maior parte das falas apoiou e até bajulou Luciano Hang. Mas um cidadão, entre os inscritos, fez a única crítica contrária. Auditor público aposentado, defendeu a forma limpa de fazer as coisas:
“A burocracia é uma defesa do cidadão. Se não fosse a burocracia, nós teríamos a esculhambação. Aquela que o sujeito entra pela porta dos fundos, fala com o prefeito, o prefeito bate em cima da mesa e diz ‘pode fazer’”, comentou.
Sob vaias da turba bolsonarista, que também gritava o nome de Luciano Hang, ele não pode concluir sua fala.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)