A ESPANHA MANDA A DIREITA PASSEAR


PSOE vence na Espanha, mas fica dependente dos partidos bascos e catalães para formar Governo


França e Alemanha ficam aliviadas
PSOE venceu eleição na Espanha
Direita e centro-direita: derrotados O

O presidente francês Emanuel Macron e a primeira-ministra da Alemanha Angela Merkel respiraram aliviados na noite deste domingo quando a vitória do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) foi confirmada após mais de 80% dos votos apurados, num pleito onde mais de 75% dos espanhóis votaram mobilizados por uma das disputas mais acirradas desde a redemocratização de 1978.

O socialista Pedro Sánchez é um apoiador e parceiro dos franceses e alemães no projeto de fortalecimento de uma União Europeia ameaçada por movimentos nacionalistas, como o Brexit, e de extrema direita que conquistaram o poder na Itália, Hungria e Polônia. Ao elegerem a esquerda, os espanhóis deram um recado: temem mais a extrema direita e o trumpismo que os separatistas de Barcelona ou os bolivarianos.

A eleição mostrou o fracasso do discurso de Pablo Casado, líder do PP, contra os separatistas da Catalunha e a esquerda em geral. Casado é afilhado de José Maria Aznar, raposa felpudíssima que comandou a Espanha de 1996 a 2004 e apostou na juventude do pupilo para renovar seu partido, enxotado do poder em maio de 2018, graças a um voto de censura, depois de a Suprema Corte condenar por corrupção aliados do então presidente do governo Mariano Rajoy. Casado falhou e o PP saiu desta eleição com 66 deputados, menos da metade das 137 cadeiras conquistadas em 2016.

Os partidos de direita e centro-direita (PP, Ciudadanos e Vox) ficaram em minoria, confinados numa oposição que promete ser ativa e barulhenta. A pesquisa de boca de urna previa que Vox chegaria aos 50 deputados. Elegeu 24. Para um partido que não tinha representação parlamentar é muito. Para o PP e Ciudadanos, pouco. Os números mostram que a direita perdeu votos para a própria direita. Parte dos eleitores do PP foi para Ciudadanos, que saiu de 32 para 57 cadeiras, e para Vox. Ou seja: dividida, a direita cresceu para dentro.

O líder do Ciudadanos Albert Rivera apostou num crescimento da direita, foi fotografado ao lado de Santiago Abascal, de Vox, prometeu que não faria acordo com o PSOE e agora está na oposição. Se tivesse buscado um drive próprio, independente, provavelmente estaria numa situação mais confortável, influindo na formação de um governo de centro-esquerda. Agora, terá de apostar tudo nas eleições municipais e autonômicas marcadas para o fim de maio.

Pedro Sánchez comemorou brindando com espumante na sede do PSOE, na calle Ferraz,70, distante pouco mais de 3 quilômetros do Palácio de La Moncloa. Na rua, bandeiras, militância, palavras de ordem. A 2,5 quilômetros dali, na calle Gênova, 13, sede do PP o clima era de desolação. Sem cava e sem povo.

O PP terá de se reinventar como força política, porque Pedro Sánchez, seu principal adversário, foi capaz de reinventar um PSOE combalido pela derrota nas eleições de 2011, moído por um PP que elegeu 186 deputados. Em 2016 voltou a perder a eleição para o PP, que fez 137 cadeiras e governou em aliança com Ciudadanos e o Partido Nacional Vasco (PNV).

Pedro Sánchez foi inteligente quando decidiu esticar a corda e radicalizar, transformando a eleição numa disputa entre esquerda e direita, mexendo com traumas e fantasmas de uma Espanha marcada por 40 anos de ditadura franquista, cuja marca foi a repressão, a violência e a pobreza. Esta estratégia fez com que os espanhóis preferissem manter tudo como está, mesmo insatisfeitos com a economia e incomodados como o desemprego, a apostar numa mudança que mexia com forças identificadas com um passado amargo.

Agora, o jovem líder socialista de 47 anos terá pela frente uma negociação que passa pela montagem de um governo com as forças de esquerda. Especialmente Podemos, mas também os separatistas da Catalunha, cujo líder Oriol Junqueras está preso e é réu acusado de rebelião em processo em curso na Suprema Corte. Outros partidos menores e os pragmáticos bascos do PNB também serão convidados a negociar com Pedro Sánchez. No caso dos bascos do PNB, em maio de 2018 eles garantiram a Sanchez os votos para tirar Rajoy de Moncloa.

Gabriel Rufián, da Esquerda Repubicana da Catalunha (ERC), correligionário de Junqueras, homenageou os presos e mostrou que um acordo passa para uma solução envolvendo a liberdade dos seus companheiros.

A esquerda espanhola deixou para trás a velha máxima segundo a qual seus líderes só se unem na cadeia ou no exílio. Fez campanha sem brigar para dentro e venceu. Lavou as feridas da derrota de dezembro, quando a direita ganhou na Andaluzia e acabou como 40 anos de governo socialista. A vitória de Sánchez foi uma reconquista às avessas.

OS 5 PRINCIPAIS CANDIDATOS QUE DISPUTARAM AS ELEIÇÕES ESPANHOLAS

  1. Pedro Sánchez, do PSOE. O partido obteve o maior número de cadeiras. No entanto, será necessário o apoio de outras siglas para que haja condições de se governar. Sánches é o atual premiê do Governo da Espanha desde 2018;
  2. Pablo Casado, do PP. Tornou-se o mais jovem líder da tradicional sigla conservadora do país;
  3. Pablo Iglesias, do Podemos. A sigla é observada como uma 3ª força, a partir de medidas contra austeridade, dando voz a grupos descontentes.
  4. Alberto Rivera, do Cidadãos. Apesar de apresentar programa liberal, defende a unidade do território espanhol, sendo contra, portanto, à independência da Catalunha;
  5. Santiago Abascal, do VOX. É 1 partido ultranacionalista, contrários aos planos de imigração.

MARCELO TOGNOZZI ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)

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